COPOM reverte tendência e eleva a SELIC - o que esperar?
Uma pesquisa aprofundada exige tempo para ser concluída. Por
essa razão, somente hoje, 19 de setembro de 2024, trago uma análise sobre a
economia, um dia após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom)
do Banco Central do Brasil (Bacen), realizada entre 17 e 18 de setembro de
2024.
A decisão mais recente do Copom alinha-se com as
expectativas de diversos economistas, incluindo eu mesmo, que previam um
aumento da taxa básica de juros até o final de 2024. Caso a tendência de
elevação da inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA),
persista, podemos antecipar que a Selic deverá encerrar o ano entre 11% e
11,25% ao ano. O índice atual, estabelecido pelo Copom, é de 10,75% ao ano,
representando um aumento de 0,25 pontos percentuais em relação ao anterior, que
era de 10,50%.
Inflação Persiste
O Boletim Focus de 13 de setembro de 2024 indicou uma
variação positiva da inflação, com expectativa de aumento pela nona semana
consecutiva. Os analistas elevaram a projeção de inflação de 4,30% para 4,35%
ao ano para 2024 e de 3,92% para 3,95% ao ano para 2025. Isso reflete a pressão
contínua sobre o índice, que se afasta cada vez mais do centro da meta de
inflação de 3,0% e se aproxima do teto máximo de 4,50%, justificando, assim, a
decisão dos analistas do Bacen.
Demanda Interna Crescente
Essa pressão inflacionária pode ser atribuída à melhora na
demanda interna, evidenciada pela variação percentual do PIB (Produto Interno
Bruto) esperado em relação a 2023, que subiu de 2,68% para 2,96% em 2024. O
aumento no consumo e nos investimentos realizados dentro do país é um sinal
positivo para a economia, mas pode se tornar problemático para a inflação, caso
a oferta não atenda às expectativas. Refiro-me ao aumento de preços que pode
ocorrer no próximo ano. Por outro lado, a projeção para o PIB de 2025 está
estabilizada em 1,90%, indicando uma possível desaceleração econômica,
acendendo um alerta sobre o patamar ideal da Selic para 2024 e 2025. Essa é uma
equação de difícil solução, especialmente considerando outros fatores que serão
abordados na próxima Ata do Copom, programada para ser divulgada em 24 de
setembro de 2024.
Mercado de Trabalho
O mercado de trabalho continua aquecido, com boa demanda. Em
julho de 2024, a taxa de desocupação caiu para 6,5%, enquanto a população
ocupada alcançou 102 milhões de trabalhadores, um aumento de 2,3% em relação a
2023. Essa recuperação persiste, embora o crescimento da força de trabalho
tenha sido mais tímido, em torno de 1,2%.
Demanda e Oferta
O que os economistas chamam de hiato do produto — a
diferença entre o que a economia realmente produz e o que ela pode produzir —
indica que estamos operando acima da capacidade potencial. Isso significa que a
demanda por bens e serviços pode estar superando a oferta em 2024. Quando essa
demanda excede a oferta, isso pode pressionar os preços para cima, contribuindo
para a inflação.
A Desancoragem em Foco
As expectativas de inflação entre os agentes econômicos não
estão alinhadas com a meta estabelecida pelo Bacen. Quando isso acontece,
surgem pressões sobre a inflação real, indicando uma tendência de alta. Em
outras palavras, se as pessoas esperam que os preços aumentem, podem agir de
forma a fazer isso acontecer.
Contexto Internacional
Em relação aos Estados Unidos, o Federal Reserve (Fed)
recentemente reduziu a taxa básica de juros para evitar a estagnação da
economia local, um sinal preocupante para investidores. Nesse contexto, a
manutenção de uma Selic elevada tende a atrair mais investimentos estrangeiros
para o Brasil, enquanto buscamos o controle da inflação interna.
A Decisão do Fed e Seus Impactos
Para você, que está aprendendo sobre o mercado financeiro ou
buscando informações, é importante destacar que cortes nas taxas de juros pelo
Federal Reserve (Fed) podem enfraquecer o dólar em relação ao real. Isso ocorre
porque taxas de juros mais baixas nos EUA tornam os investimentos em ativos
americanos menos atraentes, levando investidores a buscar mercados emergentes
como o Brasil. A maior entrada de capital estrangeiro pode fortalecer o real,
reduzindo a taxa de câmbio (dólar por real).
Um real mais forte pode reduzir os preços de produtos importados, aumentando a demanda por esses produtos. No entanto, a relação entre um real mais forte e o aumento dos custos de produção interna não é direta. Na verdade, um real mais forte tende a reduzir os custos de insumos importados, o que pode diminuir os custos de produção.
Por outro lado, produtos de exportação podem se tornar mais caros, reduzindo a competitividade da indústria nacional no mercado internacional. Isso pode levar a uma diminuição nas exportações e impactar negativamente a balança comercial brasileira. A pressão inflacionária pode surgir de diferentes formas. Se a demanda por produtos importados aumentar significativamente, isso pode levar a um aumento nos preços internos. Além disso, se as empresas locais aumentarem os preços para compensar a perda de competitividade no exterior, isso também pode gerar inflação.
O que esperar para 2024?
O cenário deve continuar sendo de cautela, com o Copom ainda
perseguindo a meta de inflação para 2025, que até então é a mesma de 2024, ou
seja, 3,0% ao ano com variação de ±1,5%, criando uma banda de 1,50% a 4,50%.
Por isso, encerrar 2024 com a inflação sob o máximo controle possível (já que a
meta do ano está comprometida) é fundamental para manter a projeção de 2025.
Não podemos esperar um afrouxamento da política monetária no próximo ano, pelo menos no primeiro trimestre de 2025, o que pode impactar, de fato, o consumo e o crédito no primeiro semestre. É importante entender qual será esse impacto, pois a elevação da Selic pode encarecer o crédito, afetando o financiamento imobiliário, em um momento em que a demanda por imóveis vem crescendo significativamente, estimulando as construtoras e incorporadoras a lançarem novos projetos praticamente todos os meses.
No que tange aos preços, não podemos pensar em reduções enquanto a inflação se mantiver próxima de 4,50% ao ano — portanto, 2025 deve iniciar com a mesma política restritiva de 2024. O mesmo controle da inflação que controla a demanda no momento atual.
A expectativa para o PIB de 2024 aumentou para 2,96%, indicando uma um crescimento econômico mais robusto, entretanto a expectativa para 2025 tem se mantido estável, o que pode indicar um crescimento mais tímido no vindouro. Portanto, o Copom precisa se atentar a SELIC, de forma a não reverter o processo de crescimento atual ou, em último caso, levar a economia ao esfriamento. É uma equação complicada, por isso, eu mesmo não apostaria em encerar 2024 a mais de 11% ao ano para a taxa básica de juros.
À medida que navegamos por esse ambiente econômico desafiador, é vital que todos permaneçam informados e atentos às mudanças. Compreender as interações entre as decisões do Copom, a evolução da inflação e o comportamento do mercado pode ser a chave para navegar por esse ambiente desafiador e potencialmente rentável. O futuro econômico ainda nos reserva desafios, mas com uma análise cuidadosa, podemos nos preparar melhor para eles.
Fique atento às atualizações e acompanhe nosso blog para mais análises e insights sobre o cenário econômico. Juntos, podemos nos preparar melhor para os desafios que estão por vir.
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