Inflação oficial abaixo da meta em 2023
A última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) em dezembro de 2023 foi animadora para o mercado, pois os especialistas reduziram a Taxa Básica de Juros (SELIC) de 12,25% a.a. para 11,75% a.a. Agora estamos atentos aos desdobramentos nos primeiros meses de 2024.
De acordo com os principais portais de Economia, o COPOM
indicou a possibilidade de mais um corte de 0,5 ponto percentual na SELIC. O
que pode ocorrer já na próxima reunião, nos dias 30 e 31 de janeiro. Essa
postura reflete confiança na atual Política Monetária adotada pelo Conselho Monetário
Nacional (CMN). Notícia bem recebida pelo mercado de bens e serviços, sugerindo
uma intenção governamental de estimular o crescimento do país, potencialmente
resultando em um aumento do consumo.
Seguindo esta perspectiva, o mercado projeta uma SELIC em
torno de 9% a.a. para 2024 e a inflação aproximada de 3,91%. Contudo, para o
investidor focado em Renda Fixa, é primordial analisar e comparar esses índices
com outras opções de investimento, que podem se tornar mais atrativas se essas
previsões se concretizarem.
Apesar das projeções, alinho-me com a maioria dos colegas
economistas que, neste momento, aconselham os investidores a verificarem a
possibilidade de manterem seus investimentos em Renda Fixa. Mesmo porque, a
SELIC ainda se mantem em dois dígitos e ativos atrelados a esse índice ainda tem
retornos atrativos. O mesmo ocorre com ativos atrelados à inflação que se
manteve acima da meta e próxima do pico máximo de tolerância, o que indica uma
persistência da pressão inflacionária sobre nossa economia, mesmo que sob
controle.
Outra análise do Portal Investing.com, observa que desde de
2020 o índice de inflação oficial não atendia às metas anuais. Em suma, a inflação
foi contida, embora haja um aumento moderado nos preços de alimentos e bebidas,
que contribuíram com 2,41 pontos percentuais para o índice geral de 5,79%. Essa
constatação revela que cerca de 40% da inflação do ano foi atribuída ao aumento
nos custos dos alimentos. (Investing.com, 2024).
Mas então, o que
poderia dar errado?
A cautela em previsões econômicas é sempre importante. Muitos
fatores externos podem influenciar o rumo da história econômica e, embora o
mercado e o COPOM apostem em uma queda para o índice de inflação em 2024, lembremo-nos
que existem muitas tensões externas capazes de alterar essa previsão.
Em 2023, a inflação fechou o ano em 4,62%, segundo o
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a meta
definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) para o mesmo ano foi de 3,25%
com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. O índice se
manteve sob controle, entretanto, muito próximo ao teto de 4,75%.
Por outro lado, para 2024, a meta de inflação foi fixada em
3% com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos, ou
seja, entre 1,5% e 4,5% 3. É uma previsão ótima, caso se confirme o cenário
previsto sem nenhum fator agressivo à Economia externa ou interna.
Existem outros
fatores de influência!
Na teoria tudo vai bem, todavia, precisamos olhar mais de
perto os fatores que podem alterar os rumos da história. E sim, temos que ser
otimistas, no entanto, cautelosos.
O salário mínimo teve um aumento de 6,97% em relação ao
valor anterior, elevando-se de R$1.320,00 em 2023 para R$1.412,00 em 2024, o
que equivale a dizer, um aumento de R$92,00. Do meu ponto de vista, representa
muito pouco para impactar a economia como idealizado.
Segundo Portal Brasil Escola, o ganho real será de 5,77% em
relação a 2023, se descontado o INPC, mas comparado ao salário mínimo pago em
janeiro de 2023, falamos em 4,69%. Isso condiz com a proposta de controle da
inflação em 2024, segundo o CMN (Conselho Monetário Nacional).
Pelo lado do Controle dos Gastos Públicos, entendo que o
momento é o de redução da Dívida Pública, ou seja, o Ministro da Fazenda
Fernando Haddad está disposto a cumprir a meta de déficit fiscal zero no ano
corrente. Embora seja inalcançável para muitos analistas, isso já sinaliza um
aperto da política fiscal, o que pode comprometer a proposta de crescimento
inicial baseada na redução da SELIC.
Um aperto fiscal nesse momento de tentativa de recuperação,
provavelmente apertará o cinto das empresas e produtores, retendo parte ou boa
parte da produção, isto é, desestimulando o investimento.
Além disso, estamos falando em corte de gastos públicos
essenciais, pois não há mais o que cortar e, sim, isso vai refletir em áreas como
a Educação e a Saúde, por exemplo. Novamente teremos pressões negativas sobre
os resultados de longo prazo.
O mercado Externo
Olhando para o mercado externo, cito novamente o Portal Investing.com
que não me deixa mentir, e traz a notícia de uma previsão de crescimento da China
em torno de 4,4%. Esse é um dos maiores parceiros comerciais do Brasil, acumulando
em 2023 um fluxo comercial de mais de 130 bilhões de dólares, portanto, bons
resultado por lá refletirão bons resultados aqui.
Outra notícia que devemos nos atentar, é o aumento dos
preços do petróleo tipo Brent na Bolsa Internacional. Isso se deve aos recentes
ataques de retaliação das forças americanas e britânicas a alvos localizados no
Iêmen, apoiados pelo Irã, e à interrupção do suprimento na principal rota entre
a Europa e a Ásia por algumas das maiores empresas operadoras de transporte
marítimo. Esses eventos podem desestabilizar o mercado, pois teme-se uma
redução da oferta do produto em meio a uma demanda crescente.
Antecedentes: segundo
a imprensa especializada, a operação coordenada entre os EUA e a Grã-Bretanha
foi uma retaliação visando os rebeldes Houthi, aliados do Hamas. Esse grupo tem
constantemente atuado no Mar Vermelho, rota comercial de navios mercantes entre
a Ásia e Europa, além de ser uma via de acesso às Américas.
Com a alegação de apoiar o grupo que atua na Faixa de Gaza,
os Houthi tem bombardeado os navios mercante que passam por essa rota, todavia,
já não fosse grave a situação, o Irã apreendeu um
petroleiro iraquiano no Golfo de Omã. No momento, teme-se uma escalada no
conflito do Oriente Médio.
Do petróleo ao tio San, os Estados Unidos registraram o Índice
de Preços ao Consumidor (IPC) de dezembro em 0,3%. No ano, o índice acumulou 3,4%,
acima da meta de 2% do Federal Reserve (FED). Isso pode sinalizar mais cautela
e lentidão por parte da instituição, em relação a redução nas taxas de juros.
Segundo o Portal Investing.com, "O núcleo, que exclui itens voláteis,
também subiu 0,3%, com indicador anual a 3,9%," (Valor Investe/Infomoney, 2024).
O "pouso suave" da Economia Americana em 2024 pode
ser possível, mas com muita cautela do FED. Apoio a ideia de que o mercado
esteja subestimando os dados da economia Americana. Então, sem delongas, o FED
pode esperar mais tempo para reduzir a taxa básica de juros e, caso o faça,
pode fazê-lo com mais cuidado, com reduções menores que àquelas previstas pelo
mercado.
Esse movimento do índice de inflação no país, fora da meta
esperada, sinaliza uma possível pressão inflacionária, exatamente o inverso do
Brasil, onde já se acredita em desinflação. Pode ser o sinal de que o início do
ciclo de reduções da taxa básica dos EUA esteja mais longe do que esperamos.
Já no setor imobiliário, o mercado brasileiro permanece
otimista com as mudanças no Programa Minha Casa Minha Vida e apresentou
expansão de 23,5% nas vendas de novos imóveis de janeiro a outubro de 2023, quando
comparado ao mesmo período do ano de 2022 (dados da Associação Brasileira de
Incorporadoras Imobiliárias, a ABRAINC e da Fundação Instituto de Pesquisas
Econômicas, FIPE).
Desde dezembro de 2023, as construtoras e incorporadoras
estão lançando novos empreendimentos imobiliários. Isso se deve ao ciclo de
redução da Selic que, se confirmado, pode tornar os financiamentos mais
acessíveis, por conta das taxas de juros que tendem a cair. Além disso,
candidatos ao primeiro imóvel que não foram aprovados pela Caixa Econômica no
ano passado terão uma segunda chance de aprovação no financiamento imobiliário.
De qualquer forma, como economista, penso que diante de
tantas incertezas nesse início de ano, toda cautela é pouca. A euforia não é
uma dádiva para o mercado, mas é desastrosa para todos. Então, o meu conselho é
aguardar com atenção a cada movimento na próxima semana, observando a
movimentação no cenário internacional durante o final de semana, antes de
avaliar uma ação de forma mais acertada.
Fontes consultadas e revisadas entre
os dias 11 e 12/01/2024.:
Brasil de
Fato: <brasildefato.com.br>
Brasil
Escola: <brasilescola.uol.com.br>
Brasil
Indicadores: <brasilindicadores.com.br>
Banco
Central: <bcb.gov.br>
Carta
Capital: <cartacapital.com.br>
CNN Brasil: <cnnbrasil.com.br>
G1: <g1.globo.com>
Governo
Federal: <gov.br>
Investing: <br.investing.com>
Revista
Forum: <revistaforum.com.br>
Valor
Investe: <valorinveste.globo.com>
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