A "desprofissionalização" profissional, parte 2
O médico lhe atende e você deixa o consultório ainda mais enfermo, o advogado tão procurado o afunda ainda mais, o corretor de imóveis que virou vendedor lhe vende uma barca furada. Tantas atrapalhadas em tantas profissões. Salve-me!
Eu não queria entrar nessa "briga", aliás, mesmo
sendo um faixa preta de Shotokan Karatê-DO eu nunca entro em um
"briga". Isso é muito deprimente e irracional ao meu ver. Todavia,
sinto-me no direito de defender minha profissão e meus serviços, tanto como
Economista devidamente Formado, como Corretor de Imóveis devidamente
habilitado.
Postagens e vídeos a parte, em um mundo tecnológico e
dominado pelas redes sociais forradas de fake
News, vulgo notícias enganosas, muitas delas compartilhadas sem a menor
responsabilidade. O século XXI é um mundo onde o conhecimento é pífio, porém, só
posso agradecer a minha professora de português, pois sua "chatice"
em me fazer ler e reler tudo o que me trazia conteúdo verdadeiro e limpo,
grandes autores esquecidos no tempo, hoje possuo o conhecimento que carrego com
amor, um valor imensurável, superior ao ouro.
Conhecimento se adquire nos livros, passe o tempo que passar
e a minha professora estava certa, pois o que sei hoje não me fez rico em
capital, mas sou rico e realizado com sucesso, embora não reconhecido por
muitos. Entretanto, não posso curar a cegueira intelectual de outrem.
No belo mundo perfeito da era tecnológica (posso chamar de
nova revolução industrial?) profissionais se atropelam na concorrência
constante pelo dinheiro, trabalham exercendo funções que não gostam e vivem um
nível de estresse tão alto a ponto de os levar a queda ainda cedo.
Houve um tempo no passado onde exercer uma profissão
diplomada era sinônimo de sucesso, pois era um sonho realizado. Era bom
trabalhar e o dinheiro no bolso era a consequência pelos serviços perfeitamente
executados. Mais longe ainda, jogar na seleção era por prazer, não por
dinheiro. E pasmem! Muitos enriqueciam como esporte.
No país do futebol é comum apoderar-se de um exemplo tão
conveniente, pois vê-se muitas empresas mal administradas agindo como times de
futebol inexperientes. Técnicos que contratam um goleiro para jogar como
atacante e um atacante para jogar de goleiro.
As escolas não vivem no mundo real, falham na educação e no
preparo profissional, as empresas exigem o impossível e os profissionais são
"desprofissionalizados". Equação não muito difícil de resolver, basta
a boa vontade de todos... o resultado esperado seria o conhecimento que leva ao
crescimento, seja individual ou coletivo.
Falando da minha profissão, onde as empresas pouco se
importam com o profissional autônomo e parceiro responsável pelas negociações:
o Corretor de Imóveis. Há quem pense que o Corretor de Imóveis é um vendedor,
outros o "enrolador" e há quem diga que o Corretor de Imóveis é o
"chato que me enche o saco" (perdoe o português).
Gosto dessa definição do site IBRESP: "O corretor de
imóveis é um profissional que atua no mercado imobiliário fazendo a
intermediação de transações de imóveis, como venda e locação". Intermediação,
não a venda, pois quem vende é o vendedor e quem compra é o comprador.
Entenda de uma vez corretor de imóveis e você cliente, valorize
a si mesmo, mas valorize os outros também e, por outro lado, não faça para os
outros o que você não deseja para si mesmo. Essa nobre profissão não é para
tornar-se vendedor, mas intermediador habilidoso nas transações imobiliárias. Cumprir
o código de ética da classe, apresentar as certidões do imóvel, sobre dívidas,
financiamento, dívida de IPTU e até possíveis processos contra o vendedor do
imóvel, verificar as informações e documentos sobre o imóvel e o proprietário,
além de checar a sua veracidade, informado o comprador, responder civil e
penalmente em caso de danos ao cliente, seja por falta de ética, negligência ou
outros motivos que venham a prejudicar o comprador. (IBRESP com grifo nosso).
Quem vende o imóvel, seja ele qual for, é o vendedor ou
proprietário do imóvel, seja pessoa física ou jurídica, construtora ou
incorporadora, então o comprador é a outra parte, certo?
O Corretor de Imóveis deve ser um profissional habilitado,
experiente e baseado na ética, moral e apoiado na legislação, a fim de utilizar
seus conhecimentos para intermediar uma negociação saudável para todos os
envolvidos no processo de negociação. A comissão, vulgo honorário, de fato é
uma consequência desse processo pela boa prestação do serviço.
Infelizmente, há atualmente uma degradação da profissão, cujo
resultado é o desrespeito da sociedade com o profissional, dura hipocrisia
humana, pois os desrespeitosos são justamente os que se sentam nos bancos de
igrejas, pregam o amor aos animais, mas não dão a mínima para o próximo, pregam
a liberdade, porém não querem estar sujeitos às leis: "viva a liberdade,
"exploda-se" a obrigação! Em suma: "viva a libertinagem e adeus à
liberdade!
Bem, não é bem por aí, pois o preço da liberdade é a eterna vigilância,
ou seja, onde há liberdade, há obrigações e, portanto, limites – esse é o mundo
real.
Voltando ao ponto central, com o aumento de corretores e "pseudo-corretores"
de imóveis, aqueles que chegam ao mercado, chegam despreparados e se tornam
vendedores vazios de conhecimento. Do contrário, um corretor de imóveis deve
ser como um advogado renomado que intermedeia as partes, a fim de obter o
resultado mais adequado possível para o seu cliente (gosto desse exemplo).
É muito mais que "ter imóveis na prateleira" e
encontrar os potenciais compradores para cada um desses imóveis. O Corretor
Imobiliário é um orientador, intercessor, pois é conhecedor das regras de
mercado, processos jurídicos, negociação, análises, documentos e tantas outras
variáveis que envolvem uma negociação.
Nesse contexto, prestar-se a uma consultoria imobiliária é
mais que perguntar ao cliente onde ele quer morar, como quer morar, quanto
ganha por ano, quanto quer pagar por um imóvel, etc. Esse é um trabalho de
direcionamento complexo e necessário, o qual deve ser sendo explicado
claramente ao comprador. Envolve-se algo que o comprador provavelmente se
preocupa muito: o seu dinheiro, estou certo?
Conhecendo-se o cliente e praticando a empatia, o rapport, entendo a real necessidade de
cada pessoa, o orientador, intermediário ou intercessor deve eticamente, guiar
seu cliente na compra do seu imóvel.
Para que o processo seja pleno é necessário um conhecimento
técnico elevado do mercado, como as formas de financiamento, hipotecas,
leilões, empréstimos, consórcios, seguros, Programa Minha Casa Minha Vida, o Sistema
Brasileiro de Poupança e Empréstimo, ser analítico, entender a sociedade, a
economia, a política e conhecer muito bem sobre finanças, além de outras
variáveis relevantes em um processo de compra e venda de imóvel.
É bem diferente de se comprar um pastel em um aplicativo ou
na feira da esquina de casa. Você investe milhares de reais, suas reservas, sua
vida em algo que, caso não dê certo, venha a se tornar sua própria ruína,
entretanto, o se der certo, ser positivo te leva ao sucesso, todavia, você me
pede informações pelo aplicativo de mensagens e evita ir a uma mesa de
negociação?
Uma negociação desse porte se faz com seriedade em uma mesa
de negócios, onde pessoas realmente interessadas e inteligentes apontam os
pontos mais importantes para cada um em si. Ou você acredita mesmo que grandes
executivos negociam por aplicativo?
Sobre o consultor imobiliário, este deve ser um profundo
conhecedor e especialista em investimentos, entendendo realmente como funcionam
os títulos imobiliários, os aluguéis, papéis do mercado financeiro, vantagens e
desvantagens de cada um, bem como as variáveis que fazem sentido para o
investidor. Grosso modo falando.
Ao contrário do que muitos pensam, quem se especializa em
demonstrar apartamento modelo, decorado e maquete, torna-se um bom demonstrador,
embora esses equipamentos se apresentem sozinhos. Um robô ou um assistente
virtual faz isso, no entanto, quem realmente é capaz de negociar e intermediar
a negociação?
O processo que envolve a negociação e a proposta, adequação,
análise jurídica, econômica, financeira e tudo o que envolve os bancos,
precificação, avaliação (quando o corretor de imóveis é habilitado como avaliador
de imóveis) – seja para o investidor ou futuro morador, de maneira alguma
poderia ser exercido por uma máquina. Lembre-se: você não compra um imóvel por
aplicativo como faz ao comprar um pastel. Logo, você não faz uma análise de
crédito para descobrir o seu potencial de financiamento em um "app",
por favor. Isso se faz junto a quem realmente é especialista no assunto. As
instituições financeiras.
Muitos clientes não respeitam o trabalho do corretor de
imóveis, pois infelizmente, alguns profissionais, como em todas as áreas, não
se dão a esse respeito. O que é muito degradante, pois, um processo imobiliário
completo e bem exercido exige esforço financeiro, psicológico, às vezes físico
e o mais importante: intelectual.
A resposta vazia não leva a uma negociação, embora o cliente
faça a linda pergunta: "Eu consigo financiar?" ou ainda, "Quanto
vou dar de entrada?".
Na real, o banco não te conhece, eu não te conheço e além
dos seus amigos e parentes, quem de fato conhece você?
Ora, ninguém sentar-se-á a uma mesa de negociação para jogar
truco, doutra maneira estaria em um bar. É na mesa de negociação que sentam-se
homens e mulheres de negócios para negociar (grosso modo, realizar uma operação
comercial que envolve inclusive, dinheiro).
Então, para se saber exatamente o imóvel que você pode
comprar, é preciso antes saber quanto o banco vai te emprestar (em outras
palavras: liberar de financiamento). E a fórmula é simples: a diferença entre o
valor do imóvel e o empréstimo (financiamento) liberado é a entrada, a não ser
que você tenha o dinheiro para comprar o mesmo imóvel à vista. Do contrário, a
sua capacidade financeira é que determina aquilo que você pode comprar. E digo,
como profissional, é a sua condição financeira, contrastada com o mercado é que
decide se você vai comprar ou não o imóvel dos seus sonhos.
Sem romantizar a profissão, indo direto ao ponto, para se
obter uma ótima negociação é necessário haver respeito de ambas as partes:
comprador, vendedor e corretor de imóveis. Aqui entra a obrigação e o direito,
pois uma negociação assume essa posição de respeito e comprometimento,
valorização e atenção de todos; um processo transparente e objetivo. Negociar
não é como brincar em um playground, é um processo adulto, onde as repostas
possíveis são SIM ou NÃO, sem fuga de qualquer um dos lados.
Comprar é uma decisão sua e vender, idem, portanto, o
corretor de imóveis ou o consultor imobiliário deve ser o fiel intermediador
das partes e zelar pelo sucesso dos negócios, de outra forma é antiético e age
com imperícia, imprudência e sem caráter.
E se você quiser um bom atendimento, valorize o bom
profissional e, você corretor, lembre-se, o mercado é pequeno, mas as
oportunidades são inúmeras. Não estrague isso! Não atrapalhe os bons
profissionais.
Se você tem alguma crítica sobre esse texto, algo que
agregue e seja inteligível, pois receberei e analisarei com muito carinho e
atenção.
Sou Paulo Magalhães, Economista formado pela UniFMU,
pós-graduado em Administração Financeira pela FEI-SP e Corretor de Imóveis
Habilitado pelo CRECI-SP.
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